Um pouco de história


Foi no conjunto de terras em torno de uma baía que a Chão de Barro – Empreendedores Sociais firma seus primeiros passos na perspectiva de mudança do atual cenário socioeconômico do Recôncavo baiano, especificamente na antiga vila da Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, atualmente cidade de Cachoeira. 
Cachoeira, um dos municípios situados na porção do Recôncavo açucareiro baiano, inicialmente habitada por comunidades indígenas, foi povoada a partir da iniciativa de duas famílias ibéricas - os Dias Adorno e os Rodrigues Martins -, proprietários das terras até a sua elevação a Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, em 1674. Devido a sua localização estratégica, um entroncamento de importantes rotas que se dirigiam ao sertão, às minas gerais do sudeste brasileiro, logo passou a se enriquecer e, em 1698, tornou-se Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira do Paraguaçu.
O florescimento da cana-de-açúcar, da mineração de ouro no Rio das Contas e a expansão do gado pelas estradas, reais e da navegação do Rio Paraguaçu colaboraram para o rápido desenvolvimento econômico da região a partir do século XVIII. Nesse momento, Cachoeira representava mais rica e populosa da Bahia e porta aberta para o sertão, corforme assinalou o cronista Antonil. Já em inícios de 1800, a sociedade cachoeirana deteve grande influência política em decorrência de sua  participação ativa nas guerras pela Independência da Bahia, em 1821, quando foi constituída a junta de defesa e a sede do governo provisório, culminando com a proclamação da Bahia livre de Portugal, ocorrido no dia 25 de junho de 1822, em Cachoeira. Em 13 de Março de 1837, a vila de Cachoeira foi elevada à categoria de cidade por decreto imperial (Lei Provincial n° 43) com o status de Cidade Heróica.
Entretanto, Cachoeira, que nos séculos XVIII e XIX representava a mais importante e opulenta vila/cidade do Recôncavo baiano, na década de 1930-40, como foi mencionado acima, havia chegado ao nível máximo de decadência econômica.
Esse fenômeno teve seu momento inicial nas últimas décadas do século XIX com o esfacelamento do agro açucareiro. No final desse século, a decadência do açúcar provocou a fragmentação do espaço da plantation, fazendo com que antigos senhores de engenhos investissem em outros setores mais promissores da economia, como o bancário. Até 1912, com a emancipação política de Conceição da Feira, Cachoeira perderia a maior parte de seu território.
 A Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939, comprometeria significativamente a agroindústria fumageira com o fechamento de fábricas de capital alemã instaladas em Cachoeira e outras cidade adjacentes, provocando um número altíssimo de desemprego.
Na década de 1950, com a descoberta de petróleo na antiga porção açucareira do Recôncavo e a implantação da Refinaria Landulfo Alves, em Mataripe, seguido da construção da estrada de rodagem 324, Cachoeira deixaria de ser um ponto fluvial de ligação entre o sertão e a Baía de Todos os Santos e centro comercial. Isolada do centro de desenvolvimento industrial baiano, sua função comercial seria substituída agora por Feira de Santana.
Na década de 1960 a implantação do Centro Industrial de Aratu e posteriormente a implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari, na década de 1970, inviabilizaram o sistema ferroviário de passageiros que ligava o sertão a Cachoeira, e o sistema de transporte flúvio-marítimo, que ligava Cachoeira a Salvador. Isto significou o golpe mortal que levou a outrora rica e opulenta cidade de Cachoeira a se tornar, entre os municípios mais importantes da Bahia, a que possui menor renda per capita. 
Nesse momento, grandes comerciantes de secos e molhados, ‘brancos da terra’ e descendentes de senhores de engenho deslocaram-se para Salvador, onde fixaram residências nos então nobres bairros de Campo Grande, Nazaré e Barra. Filhos de operários fumageiros, “empregados da Leste” e lavradores de antigos canaviais descendentes de escravos foram trabalhar na Petrobrás, fixando residência em Salvador nos bairros negros e periféricos de Liberdade, Itapagipe e Engenho Velho da Federação. Permaneceram em Cachoeira aqueles que tinham vínculos tradicionais com a cidade, anciãos e aqueles que não vislumbravam melhores oportunidades de trabalho na cidade grande, isto é, a população pobre.
Foi tombada como patrimônio histórico, artístico-cultural e natural brasileiro pelo Decreto Federal nº. 58 045, de 13 de janeiro de 1971. O tombamento ajustava-se a uma linha de ação governamental do período militar brasileiro em que os bens culturais e a subseqüente preservação vinculavam-se a uma política de desenvolvimento econômico. Tratava-se de uma política desenvolvimentista do regime militar, que ganhou a denominação de “Compromisso de Brasília”, abarcando também o campo do patrimônio nacional, iniciada na década de 1970.
Em síntese, a idéia do projeto era aliar cultura e turismo como mecanismo - referindo-se em termos atuais - preservacionistas e conservacionistas do patrimônio cultural de forma autosustentável. Tratava-se, pois, de um projeto de fomento turístico e valorização cultural para reativar a economia de áreas reconhecidamente ricas do ponto de vista histórico e artístico, além de belezas naturais e em mananciais de costumes e tradições, como era o caso de Cachoeira.
O tombamento de Cachoeira, portanto, representou uma alternativa, uma esperança de retorno de desenvolvimento, ou de estabilidade econômica, ou ainda, no pior das hipóteses, da contenção do desenfreado processo de pauperização e abandono que sofria com a sua não inclusão na zona de desenvolvimento do Recôncavo, além da subseqüente saída de significativa parte da população em busca de melhores oportunidades na porção do Recôncavo recém industrializado.
O reconhecimento do valor da cidade de Cachoeira como um patrimônio histórico-cultural importante e sua inserção no projeto governamental se deram, de forma subjacente, em função dessas intervenções intelectuais anteriores à década de 1970.
Cachoeira do ponto de vista socioeconômico, se destacou no período colonial, até finais do século XIX como uma zona de relevância portuária e produtora de açúcar e tabaco, este último fortalecido pela agro-manufatura fumageira, sustentada por capital alemão até início da década de 1950. Considerada uma das mais ricas e populosas vilas e depois cidade baiana, atualmente, entre os municípios mais importantes da Bahia é o menor em área física e a que possui menor renda per capita, segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA. A população do município, segundo dados do último censo realizado pelo IBGE é de 32.025 mil habitantes, dos quais 41,7%  de sua população vive em condições precárias, observando-se que esse contingente sobrevive com renda familiar inferior a um salário mínimo.
A ausência de políticas pública tem fortalecido o processo de exclusão, marginalização, comprometendo o bem-estar da sociedade. Em Cachoeira, o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,68 (Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2000/2002: PNUD, IPEA e Fundação João Pinheiro).
A partir dessas observações, como organização da sociedade civil, lançamo-nos com a proposta de enfrentamento a pobreza que se instalou na, outrora rica cidade de Cachoeira, através de tecnologias e estratégias mercadologias e com espírito cívico, promovendo intervenções de inclusão produtiva e fomentando o desenvolvimento local. Acreditamos que não detemos todas as soluções para os problemas que demandam da sociedade, mas durante a sua permanência indeterminada nessa localidade a Chão de Barro – Empreendedores sociais esgotará suas forças contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada, e o bom desempenho das instituições governamentais e sociais local.  

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